sábado, 25 de junho de 2011

UIRAPURU - LENDA VIVA DA AMAZÔNIA

Uma das lendas envolvendo esse pássaro conta que duas índias muito amigas, viviam andando juntas para todos os lados, desde o amanhecer até ao entardecer. Um dia as duas viram um jovem cacique, muito bonito, e ambas se apaixonaram por ele, sem dizer nada uma à outra. Apenas deram a entender que estavam apaixonadas, mas sem dizer por quem. O tempo foi passando até que um dia revelaram a verdade uma à outra, sendo que ambas ficaram estupefatas com o fato de amarem o mesmo homem. Decidiram que deixariam o cacique decidir, e a preterida se conformaria. A história do amor das duas se espalhou pela aldeia, e os mais velhos resolveram perguntar ao cacique qual das duas ele amava. O cacique, envergonhado, respondeu que gostava das duas. Como não era permitido casar-se com as duas, ficou decidido que haveria um concurso de arco e flecha entre as duas no dia seguinte. No dia seguinte, o cacique avisou que aquela que conseguisse acertar a ave indicada por ele, em pleno vôo, se tornaria sua esposa. Quando uma ave muito branca passou voando alto, o cacique disse: - É essa! As duas atiraram, mas somente uma acertou. A que perdeu parecia conformada, mas aborrecida. O casamento foi realizado. A índia que perdeu foi ficando cada vez mais triste. Procurou um lugar distante e começou a chorar. Chorou tanto, que suas lágrimas se transformaram num riacho. Tupã, ao perceber tanta tristeza, aproximou-se, e a moça contou-lhe tudo. Tupã lembrou-lhe que saber perder é uma vitória, ao que a moça lhe disse que o que mais a afligia era a saudade que sentia da amiga e do cacique, mas que não tinha coragem de vê- los, pois perceberiam sua tristeza.
Perguntou a Tupã se não podia transformá-la em pássaro, pois assim poderia observá-los sem que eles soubessem. Compadecido, Tupã fez-lhe a vontade, e no lugar em que a moça estava surgiu um passarinho de aparência tão simples, que não chamava a atenção. O pássaro voou até a oca do cacique, e ficou ainda mais triste ao vê-los tão felizes. Tupã compadeceu-se novamente, chamou o passarinho e lhe disse: - De agora em diante, você será o uirapuru. Seu canto será tão bonito que a fará esquecer a própria tristeza. Quando os outros pássaros a ouvirem, não resistirão, e ficarão em silêncio. E assim é, até hoje: quando o uirapuru canta, os pássaros em volta se emudecem para ouvir seu belíssimo.

Uirapuru - Pássaro da floresta amazônica

A ave se esconde entre a robustez da vegetação, sua cor pardo esverdeado torna mais difícil a sua visualização em meio a tantas cores e formas que a exuberante amazônia exibe. Se sua presença é difícil, seu canto é ainda mais raro, pode ser ouvido por apenas 15 dias por ano, mas de uma melodia tão bela, que o transformou em uma lenda.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Urutau - Fábula


O Urutau é uma ave noturna que, quando a lua desponta, solta um grito triste e assustador.
Sobre ele, conta-se uma curiosa lenda.
Numa humilde casinha do sertão, vivia com seus pais uma moça muito feia. Naturalmente, por causa disso, não conseguia arranjar um namorado. O tempo passava, suas amigas todas se casaram e ela continuava desprezada. Mantendo ainda alguma esperança de que lhe surgisse um pretendente - pois, afinal, tinha suas qualidades: inteligente, trabalhadeira e boa cozinheira - adquiriu o hábito de sair à noite para passear pelos campos e bosques.
Certa vez, em um desses passeios, ouviu o tropel de um cavalo que se aproximava. O coração aos pulsos, imaginou que ali vinha o homem que se casaria com ela. Em poucos segundos viu descer de uma cavalo ricamente arreado, um belo e garboso cavaleiro, um príncipe que se aproximou e perguntou-lhe como podia chegar à estrada principal. A moça habilmente procurou cativar o príncipe pela gentileza e ofereceu-se para acompanhá-lo. Apesar de feia, era muito inteligente e foi fácil manter uma conversa agradável com o príncipe que, impressionado e não lhe percebendo a feiura, pois não havia luar, pediu-a em casamento. Mas infelizmente, sua felicidade durou pouco.
A lua surgiu, iluminando o rosto da jovem. O príncipe, tomado de grande espanto, inventou uma desculpa para se afastar e se foi. A jovem, que de nada suspeitava, ficou esperando o seu regresso.
Muito tempo depois, uma feiticeira sua conhecida, ia passando e parou para conversar. A moça contou a ela o que acontecera e pediu para ser transformada numa ave e, assim, poder encontrar logo o príncipe. A feiticeira não queria, mas a jovem insistiu tanto que ela acabou concordando. Partiu, então, a jovem, transformada numa ave feia e desajeitada. Percorreu toda a região por várias vezes e nada de avistar o príncipe, que àquela altura, já estava bem longe.
Desolada, a ave - que era o urutau - procurou a bruxa e pediu para voltar à forma humana. Esta, porém nada pode fazer e a pobre teve que se conformar com seu destino de ave feia e triste.
É por isso que, quando a lua aparece, o urutau solta aquele grito triste que parece dizer "foi, foi, foi", lembrando o príncipe que fugira da moça feia.
O uratau é um pássaro solitário e de hábitos noturnos que dificilmente se deixa ver. Pousado na ponta de um galho seco, dar nenhum tipo de sinal de vida.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Lenda da Inveja



Conta uma antiga fábula que, depois de muito fugir de uma cruel serpente, o vaga-lume se rendeu, pedindo apenas para que ela lhe respondesse três perguntas, antes de devorá-lo. Um pouco relutante, mas satisfeita por mostrar sua superioridade diante da presa, a serpente aceitou a proposta. Para começar, o inseto quis saber se fazia parte da cadeia alimentar de sua perseguidora. Rapidamente, ela respondeu que não. Percebendo que não se tratava de uma questão alimentar, o vaga-lume tentou puxar pela memória algo pessoal. No entanto, não se recordou de nenhum conflito entre eles. Questionou, então, se já havia feito algum mal à cobra. Ela balançou a cabeça negativamente. Confuso e sem entender o que se passava, ele perguntou, por fim, o que fazia a serpente caçá-lo com tanta insistência e ódio. A resposta foi objetiva. "É que não suporto vê-lo brilhar", disse.

Essa simples história retrata com clareza um sentimento conhecido por todos nós: a inveja.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Lenda do Boto



Segundo se conta na Amazônia, os botos do rio Amazonas fazem charme para as moças que vivem em vilas e cidades à beira-rio. Eles as namoram e, depois, tornam-se os pais de seus filhos!

No início da noite, o boto se transforma em um belo homem e sai das águas, muito bem vestido e de chapéu, para esconder o buraco que todos os botos têm no alto da cabeça (o buraco serve para respirar o ar, já que os botos são mamíferos e têm pulmões, como você). O rapaz-boto vai aos bailes, dança, bebe, conversa e conquista uma moça bonita. Mas, antes do dia surgir, entra de novo na água do rio e se transforma de novo em um mamífero das águas.

O boto verdadeiro
O verdadeiro boto é um mamífero da ordem dos cetáceos. Há um grupo deles que vive exclusivamente em água doce, de rio. O que vive na América do Sul tem o corpo alongado, de dois a três metros de comprimento. Tem grandes nadadeiras peitorais e cerca de 134 dentes. São cinzentos, mas clareiam com a idade e ficam cor-de-rosa!

Botos comem peixes e, às vezes, frutos que caem no rio. A fêmea tem um filhote, que permanece ao seu lado até ficar adulto.

Parece que as lendas sobre "botos-homens" só surgiram no Brasil a partir do século XVIII. Pelo menos, nenhum pesquisador encontrou registros mais antigos dessa lenda! Mas, na mitologia dos índios tupis, há um deus - o Uauiará - que se transforma em boto. Esse deus adora namorar belas mulheres.


Até hoje, mães solteiras na região do Amazonas dizem que seus filhos são filhos "do boto"! O olho do boto, seco, é considerado um ótimo amuleto para conseguir sucesso no amor. Se o homem quer conquistar uma mulher, dizem que ele deve olhar para ela através de um olho de boto. Desse jeito, ela não vai poder resistir - e vai ficar perdidamente apaixonada...

Lendas Indígenas De Paquetá

Lendas Indígenas De Paquetá

1. A Lenda do Boto Cinzento



O boto cinzento é o mais importante habitante encantado do mar tranqüilo de Paquetá.
Diz a sua lenda que nas altas horas da noite êle costuma aparecer nas nossas praias, se transformar em gente e passear pela nossa ilha.
Dizem também que êle costuma usar sempre roupa branca e um chapéu da mesma cor para ocultar uma abertura que tem no alto da cabeça.
Êle costuma aparecer sempre tão elegante, que encanta e seduz as donzelas mais jóvens e mais bonitas da festa.
Êle costuma sair com elas para passear mas, sempre, antes da madrugada, êle pula de novo no mar e se transforma novamente em peixe, deixando as moças para atrás e, quase sempre, grávidas ...
Assim, sedutor e fecundador, êle também é conhecido como o pai de muitos filhos de mães solteiras que o acusam dessa paternidade.
O boto cinzento é obcecado por mulheres e sente o cheiro feminino a grandes distâncias, pelo que, para afugentá-lo, recomenda-se passar alho nas canoas e em todos os lugares onde êle costuma aparecer ...

2. A Índia da Lagoa Grande

Até o século passado, existiu em Paquetá uma grande lagoa, popularmente chamada de Lagoa Grande, que ia desde as imediações da atual Rua Cerqueira até as proximidades da Rua Adelaide Alambari nº 10, onde foi achada, enterrada, uma urna mortuária Tupi, num local que correspondia à margem mais setentrional da lagoa, onde, provàvelmente, era aonde ela possuía mais conchas.
E dizem que nas noites de lua cheia costuma ser vista, com o seu lindo cocar, uma bela índia tamoio, que passeia vagarosamente por ali e logo depois desaparece sem deixar vestígios ...

3. A Galinha Grande

É uma galinha enorme e dizem que é mais de madrugada que ela costuma aparecer, mariscando com os seus pintinhos, e que quando ela avista ou é avistada por alguém, ataca, obrigando as pessoas a se defenderem com o que tiverem disponível ao seu alcance, como paus e pedras, até que ela desapareça, o que costuma acontecer tão misteriosamente como apareceu ...

4. O Velho da Praia

Conta-se que é mal-assombrada uma casinha que fica na ponta mais setentrional de Paquetá e que lá costuma aparecer um velho com barbas brancas, com roupas velhas, que se apóia num grosso cajado de madeira e que expulsa da sua casa quem quer que seja, desaparecendo logo depois nas águas do mar ...

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Mavutsinim: O Primeiro Homem -Pai Sumé - Avinhocá: A Origem do Arco



Mavutsinim: O Primeiro Homem


O primeiro homem (kamaiurá) No começo só havia Mavutsinim. Ninguém vivia com ele. Não tinha mulher. Não tinha filho, nenhum parente ele tinha. Era só. Um dia ele fez uma concha virar mulher e casou com ela. Quando o filho nasceu, perguntou para a esposa: É homem ou mulher? é homem. Vou levar ele comigo. E foi embora. A mãe do menino chorou e voltou para a aldeia dela, a lagoa, onde virou concha outra vez. - Nós - dizem os índios - somos netos do filho de Mavutsinim.


Pai Sumé

Todos os povos primitivos denunciam solene respeito por certos personagens que se impuseram à sua crença como entes privilegiados por um poder sobrenatural. A imaginação indígena se deleita em admitir a existência de heróis-mitos civilizadores cujos destinos se cruzam entre diversas tribos, oferecendo-lhes afinidades sociais. Sendo assim, encontramos em nossos estudos da religião dos índios brasileiros um verdadeiro super-homem , com múltiplas denominações.

Entre os tupinambás visualiza-se o culto à "Monan", uma espécie de deus semelhante ao cristão. Mas existia também um outro Monan, que também qualificavam de "Maire", ou seja, o "transformador". Espírito desenvolvido, conhecedor de sortilégios, a ação civilizadora de Maire-monan teria se manifestado na introdução da agricultura entre os avós dos tupinambás, para os quais teria trazido todos os vegetais necessários para a alimentação de seus descendentes.

Maire-monan, também revelou-lhes os segredos das plantas alimentícias, necessários para se distinguir os vegetais úteis e os nocivos, apontando-lhes o uso que podiam fazer de suas virtudes medicinais. Coube-lhe ainda, representar o papel de transformador de costumes e isso, ele fez por vezes, de maneira cruel, levantando contra si a cólera dos homens que recebiam o seu justo castigo. A vida de Maire-monan foi muito rica em peripécias de toda a sorte. Não se conhecem entretanto, casos ou episódios que ilustrem sua passagem marcante, pois movidos pelo ódio que despertavam suas sentenças, foi condenado à morte.

Conta-se que o convidaram-no para uma festa e obrigaram-no a saltar por cima de três fogueiras. Depois de ter sido bem sucedido na primeira, Maire-monan desmaiou na segunda e foi consumido pelas chamas. O estalo de seu crânio queimando, produziu o trovão, enquanto as labaredas da fogueira mudavam-se em raios.

Estes mesmas virtudes de que se revestiam o culto de Maire-monan, foram encontradas entre os tupis na figura de "Sumé". Os dados coletados pelos padres Nóbrega e Simão de Vasconcelos, viam em Sumé a figura de São Tomé, que os indígenas denominavam de "Zomé" e que, em épocas remotas, teria sido um guia esclarecido. Sumé também exerceu o papel de legislador,proibindo algumas tribos de poligamia e antropofagia. Em uma lenda, conta-se, que alguns índios enraivecidos pela limitação de sua sexualidade, atearam fogo à casa de Sumé. Outros falam que foi alvo de flechadas ou ainda que o amarraram a uma peada pedra e o jogaram no rio. E, há quem diga que foi submetido a uma prova de resistência e teve que caminhar sobre o fogo, queimando os pés.Os índios tupis acreditavam que Sumé partiu andando sobre as águas do oceano Atlântico e que prometeu voltar um dia para continuar sua obra civilizatória. Talvez esta profecia se cumpra e Sumé retorne para salvar os índios brasileiros.

Uma nova versão, conta que Sumé ao ser perseguido pelos tupinambás, foi para o Paraguai e dali para o Peru. Para esta travessia, teria aberto uma estrada que ficou conhecida como "Peabiru" ou o "Caminho das Montanhas do Sol". Recentemente, um arqueólogo brasileiro reconstituiu tal estrada, encontrando dezenas de marcos. Esta descoberta confirma que realmente existiu intercâmbio entre os indígenas do Brasil com os do Peru.



Avinhocá: A Origem do Arco


A origem do Arco (Kuikúru) Avinhocá resolveu às margens do rio Kuluene, acima da foz do Turuine (rio Sete de Setembro), reunir índios de todo jeito, mansos, bravos, para distribuir armas. O primeiro a aparecer foi o Kuikúru que tomou o arco branco. Daí em diante os Kuikúru e todos os seus parentes usam arco desse tipo. Depois apareceu outro índio, que pegou arco de madeira escura. Finalmente apareceu outro, que pegou a arma de fogo. Feito isso, Avinhocá mostrou uma pequena lagoa e mandou que todos se banhassem ali. Como a lagoa tinha muita piranha, jacaré, cobras etc., os índios ficaram com medo, o que fez Avinhocá ficar zangado. Os índios, então, molharam só as mãos e correram a enxugá-las num tronco de árvore. Essa árvore ficou com a casca branca - é o pau de leite. Um menos medroso obedeceu a Avinhocá e se atirou na lagoa, por isso ficou branco. Esse é o civilizado que pegou a arma de fogo. Nesse instante uma árvore gritou lá de dentro da mata e os índios responderam. Avinhocá predisse: "As árvores morrerão um dia e os índios também desaparecerão". Novo grito foi ouvido, desta vez vindo de uma pedra. O civilizado respondeu o grito e daí Avinhocá disse: "A pedra nunca morrerá e, portanto, os caraíbas nunca desaparecerão". Depois disso tudo Avinhocá determinou que todos fossem embora, cada um para um lado. Avinhocá ainda estava ali quando chegaram seus filhos, Tivári e Torrôngo. Nesse momento apareceu Rit-Taurinha. Deu óleo de pequi e a um dos filhos de Avinhocá e mandou que passasse no corpo. Avinhocá não deixou, dizendo que aquele óleo envelhecia. Para provar, passou o óleo no seu próprio corpo, ficando bem velho. Em seguida, Rit-Taurinha deu um pedaço de fumo ao outro filho de Avinhocá mandando que ele fumasse. Avinhocá interveio outra vez dizendo que o fumo é somente para os velhos. Moço, fumando, envelhece depressa. Por isso é que só índio velho é que fuma. Rit-taurinha partiu deixando Avinhocá e os filhos. Um deles, Tivári, resolveu casar e para isso reuniu todas as fêmeas das aves e bichos, e seguiu para a beira do rio. Chegando lá, disse que seria a sua mulher aquela que o acompanhasse. Dizendo isso mergulhou nas águas. A andorinha, porém, imprevidente, continuou esvoaçando por sobre as águas e, numa das vezes em que se chocava com a superfície, foi apanhada por Tivári, que a levou para a sua aldeia no fundo do rio. Todos acreditam que lá no fundo do rio há uma grande aldeia com bonitas roças.

domingo, 26 de abril de 2009

Yara - a rainha das águas



Yara, a jovem Tupi, era a mais formosa mulher das tribos que habitavam ao longo do rio Amazonas. Por sua doçura, todos os animais e as plantas a amavam. Mantinha-se, entretanto, indiferente aos muitos admiradores da tribo. Numa tarde de verão, mesmo após o Sol se pôr, Yara permanecia no banho, quando foi surpreendida por um grupo de homens estranhos. Sem condições de fugir, a jovem foi agarrada e amordaçada. Acabou por desmaiar, sendo, mesmo assim, violentada e atirada ao rio. O espírito das águas transformou o corpo de Yara num ser duplo. Continuaria humana da cintura para cima, tornando-se peixe no restante. Yara passou a ser uma sereia, cujo canto atrai os homens de maneira irresistível. Ao verem a linda criatura, eles se aproximam dela, que os abraça e os arrasta às profundezas, de onde nunca mais voltarão.